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segunda-feira, 11 de maio de 2009

O lucro, outra epidemia que avança


Sábado, 2009-05-02 09:08 — taborda
por Silvia Ribeiro, La Jornada de México / Especial para Página/12.
O sistema de criação industrial de animais, controlado por grandes empresas multinacionais, está intimamente ligado à origem da nova epidemia. Os laboratórios, que monopolizam as patentes de vacinas e anti-virais, são os grandes beneficiados.
A nova epidemia de gripe suína que dia a dia ameaça expandir-se a mais regiões do mundo não é um fenómeno isolado. É parte da crise generalizada e tem raízes no sistema de criação industrial de animais, controlado por grandes empresas multinacionais.No México, as grandes empresas avícolas e suínas têm proliferado amplamenta na águas (suja) do Tratado de Livre Comercio da América do Norte. Um exemplo é a Granjas Carroll, em Veracruz, propriedade da Smithfield Foods, a maior empresa de criação de porcos e processamento de productos suinos em todo o mundo, com filiais nos EUA, Europa e China. Na sua sede de Perote, no México, começou há algumas semanas uma epidemia virulenta de doenças respiratórias que afectou 60 por centro da população de La Gloria. Desde há vários anos que a população desse lugar mantém uma dura luta contra a contaminação produzida pela empresa e inclusive têm sofrido a repressão das autoridades como resposta às suas denuncias. Granjas Carroll declarou que não está relacionada nem é a origem da actual epidemia, alegando que a população teve uma gripe comum. Apesar das dúvidas, não existiram analises para saber exactamente de que vírus se tratava.
Em contraste, as conclusões do painel Pew Commision on Industrial Farm Animal Production (Comissão Pew sobre produção industrial de animais), publicadas em 2008, afirmam que as condições de criação e confinamento inerentes à produção industrial, sobretudo de porcos, criam um ambiente perfeito para a recombinação de vírus de diferentes estripes. Inclusive mencionam o perigo de recombinação da gripe aviaria e suína e como estes podem chegar a dar origem a um vírus que afecte e seja transmitido entre humanos. Mencionam também que por muitas vias, incluindo a contaminação de águas, pode chegara localidades longínquas, sem aparente contacto directo. Um exemplo de onde deveríamos aprender é o surgimento da gripe aviaria. Ver por exemplo o relatório de Grain que ilustra como a industria avícola criou a gripe aviária (http://www.grain.org/).
Mas as respostas oficiais perante a crise actual, ainda por cima tardias (esperaram que os EUA anuncia-se primeiro o surgimento do novo vírus, perdendo dias valiosos para combater a epidemia), parecem ignorar as causas reais e mais importantes.
A nova epidemia não é um fenómeno isolado. É parte da crise generalizada e tem raízes no sistema de criação industrial de animais, controlado por grandes empresas multinacionais.
Mais que enviar estripes do vírus para analisar a sua sequência genética a cientistas como Craig Venter, que se enriqueceu com a privatização da investigação e dos seus resultados (analise que, por certo, já foi feita por investigadores públicos do Centro de Prevenção de Enfermidades em Atlanta, EUA), o que é necessário entender é que este fenómeno se irá repetir enquanto prossigam os criadores destes vírus. Com a epidemia, são também multinacionais as que mais lucram: as empresas de biotecnologia e farmacêuticas que monopolizam vacinas e anti-virais. O governo mexicano anunciou que tem um milhão de doses de anti-virais para atacar a nova estripe da gripe suína, mas nunca informou a que custo. Os únicos anti-virais que ainda têm acção contra o novo vírus estão patenteados na maior parte do mundo e são propriedade de duas grandes empresas farmacêuticas: zanamivir, com nome comercial Relenza, comercializado por GlaxoSmirhKline, e oseltamivir, cuja marca comercial é Tamiflu, patenteado por Gliead Sciences, com licença exclusiva da Roche. Glaxo e Roche são a segunda e quarta maiores empresas farmacêuticas à escala mundial e, como com todos os seus fármacos, as epidemias são as suas melhores oportunidades de negócio.
Com a gripe aviaria, todas elas obtiveram centenas de milhares de milhões de dólares de lucros. Com o anuncio da nova epidemia no México, as acções de Gilead subiram 3 por cento, as de Roche 4 e as de Glaxo 6 por cento, e isto é apenas o começo.
Outra empresa que persegue este suculento negócio é a Baxter, que solicitou amostras do novo vírus e anunciou que poderia ter a vacina em três semanas. Baxter, outra farmacêutica mundial (no 22º lugar), teve um acidente na sua fábrica na Austria em Fevereiro deste ano. Enviou um produto contra a gripe para a Alemanha, Eslovénia e Republica Checa, contaminado com o vírus da gripe aviaria. Segundo a empresa, foram erros humanos e problemas no processo, do qual não pode dar detalhes, porque teriam de revelar processos patenteados.
Não só necessitamos combater a epidemia da gripe: também a do lucro.
Silvia Ribeiro é investigadora do Grupo ETC, sediado no México e faz parte do comité editorial da revista latino-americana "Biodiversidad, sustento y culturas" e do conselho assessor da revista Ecología Política.
Traduzido para português por J. Taborda / GAIA
Fonte: Gaia

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